Ando
completamente doida. Ando pior que tu. Não sei se é por osmose ou se é por
cansaço extremo, mas este rancor transforma-se rapidamente numa sede de beijo e
numa raiva insustida, com uma rapidez que nem os formula 1 atingem. Quero estar
linda quando sei que vou aparecer ao pé de ti, quero recusar-te o toque,
atirar-te à cara a minha vontade dos outros, que me esforço todos os dias por
fingir. Quero magoar-te e levar-te em braços. Dar-te colo enquanto te espeto de
mansinho nas costas abandonadas uma faca bem afiada, que te ronde algum orgão
vital, sem te matar para que nunca deixes de me cheirar, para que os teus
sentidos se mantenham todos alerta na minha direcção, sempre. Diz-me, a quem te
entrego para que te cuidem, para que eu possa cuidar de mim? Quero injectar-te
desespero, provocar-te lágrimas e depois lambê-las. Quero-te longe e ainda mais
te quero perto. Perto das minhas mãos, das minhas traições inventadas, dos meus
devaneios controladores. Ando maluca e ciumenta, mas apetece-me entregar-te a
todas para ter motivo válido para te arrasar e fazer com que te enroles a um
canto como um bicho, consumido pela culpa, arrependidissimo pelo que achaste
que perdeste. Quero que sofras, nem que isso acabe comigo. Quero ter a certeza
de que nunca seremos felizes e esfregar-to na cara enquanto te pego na mão e te
levo a passear numa aparência de normalidade. Quero mostrar-te o meu
riso cínico, quero dizer-te a frase maldita que te enfraquece os joelhos.
Quero a provocação, o quereres e não teres, a machadada final na
esperança, o agora sim mas afinal não, o devolver-te a disfuncionalidade que
plantaste em mim como uma semente negra, uma cruz do avesso pendurada na
parede. Quero o teu amor porque é a tua fraqueza e o meu poder sobre ti. Agora
diz-me, o que é que eu faço de mim?
1 comentário:
não podia estar melhor! está tão, mas tão bem escrito *
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